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terça-feira, 15 de abril de 2014

CRÔNICA DE UM AUTÊNTICO E INSUBSTITUÍVEL VETERANO

Por: Luiz Sérgio de Carvalho

Do alto de seus setenta anos, ainda muito lúcido, exibindo um aspecto físico de quem um dia enveredou pelos caminhos futebolísticos e ainda exercendo sua profissão com muita competência, o simpático senhor narra com saudades suas reminiscências de um tempo remoto dando a impressão de que as guarda como se fosse o mais valioso dos tesouros.
 

De voz mansa e agradável, ele relata que era uma época de ouro do pedacinho de céu, onde alguns residentes, já entrando na idade do lobo, ansiavam por encontrar alguma atividade que lhes dessem prazer e divertimento. É notório que nesta época poucas eram as opções, mas, uma dessas escassas alternativas, por certo, era do gosto e preferência da maioria: a prática do futebol.
 

Nos campos de futebol tradicionais eram preteridos, mas a vontade de praticar o passatempo preferido os instigou a buscar um campinho de futebol que existia onde hoje se localiza a garagem da Prefeitura, A verdade é que este local se constituía em uma distância bastante considerável, notabilizando-se que o Muruci, à época, fazia-se o mais moço dos bairros das adjacências portelenses.
 

Foi, então, que Guarasuco, de sobressalto, lembrou aos amigos que atrás de sua casa havia um terreno vazio pertencente ao município: eram terras devolutas. Foram verificar e concluíram que ali poderia ser erguido um campinho de futebol para o deleite deles aos domingos.
 

Era um verdadeiro matagal. Sua flora era constituída de embaúbeiras e inajazeiros, além daquelas plantas rasteiras inerentes ao nosso solo de boa qualidade.
 

Imediatamente levantaram fundos para a limpeza. Pediram ajuda à Prefeitura que disponibilizou caçamba e plainadeira para fazer o nivelamento do campinho.
 

Para adquirir aquela terra devoluta, necessitaram da ajuda de um antigo político da Arena, denominado Antônio Amaral, Deputado Estadual que invariavelmente aportava no município para as suas campanhas eleitorais. Este solicitou ao então Prefeito Felizardo Diniz a doação do pedaço de terra.
 

O curioso era a localização do campo. Este se encontrava entre os limites dos quintais das casas de famílias, fazendo um quadrado. O mais estranho, pasmem, era a falta de acesso ao lugar.
 

Este importante detalhe não poderia ser empecilho para nossos entusiasmados praticantes do esporte bretão.
 

Um dos moradores dos arredores do campinho foi consultado se poderia negociar um pequeno terreno ao lado de sua casa, o qual acenou positivamente e assim foi concretizado, tendo a partir daí uma entrada para o campo.
 

Fizeram um grupo de associados e assim, surgiu o Veteranos Esporte clube, organização de senhores de meia-idade criado exclusivamente para a diversão futebolísitica.
 

Rotineiramente aqueles homens eram vistos se deslocando lentamente em suas bicicletas rumo ao palco daquele teatro ao ar livre interpretando as cenas mais pitorescas e engraçadas protagonizadas por eles mesmos.
 

Conta a lenda que Jorge Hiraoka, em uma daquelas suas tardes mais inspiradas foi executar um pênalti. Preparou-se, bastante concentrado, mirou a bola, correu em direção à pelota e... conseguiu a façanha de fazer com ela tomasse a direção contrária à trave, por cima de sua cabeça, para trás, deixando a torcida em polvorosa, gargalhando com a falta de intimidade de nosso bravo jogador.
 

Convém salientar que os arredores do campo ficavam lotados de expectadores que iam só pra se deliciar com as jogadas engraçadas daqueles senhores.
 

A Brincadeira entre eles era tão pacífica que em outra ocasião, Nenenzinho levou um bolo para festejar um ano em que o Sr. Suto havia ficado sem sequer fazer um único golzinho.
 

Aliás, com o Sr. Suto, a bola passava, mas o jogador ficava... se remoendo de dores. Era a canela mais dura do campinho.
 

Certa vez foram convidados a ir até Breves fazer uma preliminar de um jogo entre Clube do Remo e a Seleção local. No melhor do jogo, como sempre havia o rodízio de jogadores, o técnico resolveu substituir Arigozinho. Ao ser informado, nosso esportista estava tão entusiasmado com a partida que não queria sair, só acenava com a mão de que iria, mas nada de concretizar a ação. Por azar, em determinado momento, em uma jogada rápida, chocou-se com outro jogador em que seu nariz veio a sangrar. O massagista entrou em campo como se fosse um Usain Bolt. Verificou a situação e lhe falou que seu nariz havia quebrado e necessitava de cirurgia urgente, artimanha usada somente pra que ele saísse e desse lugar a outro “craque”. Surtiu efeito, o rapaz ficou preocupado e só assim cedeu lugar a outro. Tiveram que mentir para que nosso atleta saísse do combate.
 

Não havia só perna de pau, alguns comprovadamente craques desfilaram seu futebol pelos gramados do Campo dos Veteranos: Nelson de Deus e João Paranhos foram alguns deles.
 

Bem, o tempo é cruel com o ser humano, este foi passando e alguns deles, com o peso da idade, foram saindo forçadamente pela decrepitude do corpo humano e sendo substituídos por outros. Mas, assim como Arigozinho, a relutância em deixar os gramados, mais pela convivência alegre e feliz daqueles eternos veteranos, foi grande, e só houve a substituição por que Deus lhes garantiu que nunca seriam esquecidos pela população portelense. 

Crônica dedicada a Suto Campos, Jorge Hiraoka, Arigozinho, Guarasuco, Antônio Meireles, Joaquim Meireles, Chico Pato, Luiz Balateiro, Wilson Cunha, Nelson de Deus, João Paranhos, Caiçara, Maxico, Cerol, Nenenzinho da Padaria, Magno Milhão e Magno da Fàtima Freire, fundadores do Veteranos Esporte Clube.

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