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sexta-feira, 20 de setembro de 2013

A volta do besouro verde

(*) Por Samuel Lima
Olá, depois de algum tempo não pude interagir com nossos leitores. O motivo se deu por circunstâncias profissionais. Mas aqui estou eu e dessa vez, atendendo aos pedidos de alguns amigos de nossa querida terrinha arucará, entre os tais, a professora Francisca Sanches e o Miro Pereira. 

Nesse singelo artigo abordaremos o tema “vingança” - mas sem a intenção de esgotá-lo – já que essa tem sido uma prática do bicho-homem na controversa aventura humana chamada vida. Pois, bem, existe na linguagem popular uma expressão bastante pitoresca, que revela “essa perversa prática” - que uma pessoa sente em relação a quem lhe causou algum mal. A contrariedade pode decorrer de palavras, gestos ou ações ofensivas e agressivas, porque o atingido não reza na cartilha do agressor. 

Portanto, “A volta do besouro verde”, equivale à hora do revide. Jesus Cristo sempre condenou o sentimento de desforra. Tanto é verdade, que ecoa na mente de todos os cristãos suas palavras recomendando que um atingido na face - ofereça o outro lado para também ser batido. Esse mandamento é quase impossível de cumpri-lo, principalmente por nós, do gênero masculino, pois, afinal de contas, “em cara de homem não se bate”. O próprio individuo ofendido sempre fica no aguardo do troco. 

Na esfera política, alguns governantes e detentores de cargos eletivos costumam subtrair do povo aquilo que lhes é necessário para sobreviver. Agem dessa forma quando os eleitores não aceitam suas lideranças e denunciam seus deslizes. As ações perniciosas de pérfidos políticos atrapalham o cidadão reto, mas também martirizam os autores dos feitos. Muitas vidas foram ceifadas ao longo da história da humanidade porque os poderosos vingaram-se das pessoas que contrariavam seus interesses. 

O tempo passou, mas a expressão “a volta do besouro verde” ainda permanece em voga. Aí mesmo, na cidade de Portel, existem sentimentos de vingança em profusão pairando no ar e enraizados na mente dos eleitores. E de onde vem tal expressão? Os que vivem nas regiões onde ocorre a criação de gado se acostumaram a ver um besouro esverdeado, conhecido como escaravelho, que usa o excremento de mamíferos herbívoros para se alimentar e enterrar seus ovos. O trabalho de recolher excrementos é sempre reservado as fêmeas. Elas separam pedaços do esterco ainda frescos, rolam na terra até formar bolas, algumas maiores do que a própria artífice. Em seguida, apoiando-se nas patas dianteiras, rolam as bolas pra trás na direção de um buraco que é sua morada. Se a bola de fezes não couber no orifício a fêmea do besouro trata de ampliar a entrada. Depois de introduzir a bola na sua morada, a besoura-fêmea fura uma câmara na pelota e ali põe seus ovos. A quentura do esterco em fermentação acelera a eclosão dos ovos e o aparecimento das lavas. Tanto a mãe como os filhos se alimentas do excremento do animal. O trabalho da fêmea do besouro é demorado. Em determinados momentos ela alça vôo e desaparece, dando a impressão de que desistiu da empreitada. Algum tempo depois, sempre “zunindo”, ela reaparece e reinicia sua acrobacia. Alguém pode julgar que esse animal seja desprovido de inteligência. Ledo engano, seu cérebro é do tamanho de um grão de arroz, mas lhe assegura eficiência e maestria, no duro trabalho de rolar ou virar bosta. 

O político que se elegeu com o apoio de eleitores, que depois não cumpriu sua promessa, sabe que, numa próxima eleição deve estar preparado para aguardar “a volta do besouro verde”. Mas não é só na política que a expressão é usada. Lembro de um fato pitoresco ocorrido com um amigo da época que servimos no Exército em Belém - que se enamorou de uma garota bonita - mas que foi rejeitado por ela com a frase: “vê se tu te enxergas”. Na ocasião, o meu amigo lhe disse: “ta legal, mas eu vou esperar a volta do besouro verde (ou seja, um dia tu me pagas!)”. Assediada por homens endinheirados, a moça acabou vivendo com eles tórridos romances em freqüentes orgias, até adoecer e perder a bela estampa que a tornara tão desejada. Refeita da doença já não possuía tantos atrativos e acabou frequentando o “rendez-vous da vida”. 

Certa noite, sem ter conseguido freguês, ela viu o jovem – (já promovido a patente de Cabo) que desprezara adentrar no local da Luz Vermelha. A fome a impeliu se aproximar dele para pedir que pagasse algo para comer e por recompensa ofereceu-lhe seu corpo. Foi atendida quanto ao desejo estomacal, mas recusada como parceira de transa. E ainda ouviu o meu amigo dizer: “lembras que eu te disse que iria esperar a volta do besouro verde?”. O troco foi dado. 

(*) Portelense, economista, pesquisador-chefe do Instituto de Pesquisas Econômicas e Sociais do Estado do Amapá e atual Secretário Municipal de Planejamento em Mazagão (AP). E-mail: samlima17@yahoo.com.br – facebook: Samuel Barbosa. Texto publicado em Santana-AP- Brasil - às 20h30min do dia 19 de setembro de 2013. Texto adaptado parcialmente do compêndio de crônicas do Professor Nilson Montoril.

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