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sábado, 10 de agosto de 2013

Só se constrói com o trabalho



 Por Samuel Lima (*)

De repente as 11h45min eclodia um sonoro apito na calada da noite da pequena e pacata cidade. Piiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii. Era um sonido chato e demorado da caldeira da companhia Amazonas em Portel, mas com o passar do tempo, devido a sua imprescindível utilidade, tornou-se um axioma. 

Para muitos era de grande valia. Pois, tinha várias finalidades, dentre elas, a de despertar os funcionários para o turno de trabalho naquela empresa e para os desorientados da vida –, que chegara o momento de se recolher e ou, acertar aos ponteiros dos velhos relógios. Convém salientar que poucos permaneciam acordados até a meia-noite. Salvo engano, aos poucos profissionais que naqueles tempos havia. Já nós, os moleques, depois de ouvir sem entender “PN” o programa radiofônico “A voz do Brasil”, que era sagrada pro meu pai ouvi-la, no velho “radio campeão” – que chiava pra caramba -, tínhamos de ir deitar por livre e espontânea vontade, sem pestanejar, e noutras, compulsoriamente, na base da porrada. 

Ai do moleque que ousasse levantar pra ao menos ir tomar água. Não era permitido dar um pio, pois, o papai tinha de dormir cedo - para logo mais ir trabalhar. Pela manhã, nós também tínhamos de levantar com a aurora pra ajudarmos nas tarefas domésticas, irmos pra escola, fazermos as vendas e quando dava – uma partida de bola no campinho, improvisado no quintal. Já nesses tempos pós-modernos, também chamados cibernéticos, a humanidade está passando por mudanças tão céleres que, em poucas décadas, as alterações dos usos e costumes avançam mais do que em milênios inteiros em tempos passados. A tecnologia e os usos e costumes surpreendem as pessoas em tão curto espaço de tempo dando a impressão de terminar uma vida e iniciar outra sem que a pessoa tenha morrido ou se mudado de planeta. O que ontem era tradição pétrea, amanhã poderá ser infração ou desuso ridículo. Só o trabalho permanece intocado e imutável. Até o tempo dos papas sisudos e cerimoniosos já pertence ao passado. As preocupações e os objetivos catequéticos hoje são outros. A espiritualidade está se adaptando à cibernética. Os ouvintes, que até recentemente eram apenas locais, hoje são globais. Os chamados à oração e à meditação abrangem o planeta instantaneamente e a custos ínfimos. O cajado do pastor é a mídia multicolorida que alcança e concentra as ovelhas onde quer que estejam.

Os apelos à fraternidade, à solidariedade e à caridade predominaram na Jornada Mundial da Juventude. Vidas de beatos e santos foram citadas como exemplos a seguir. A exclusão social dos idosos está ficando preocupante, bem como, dos jovens. São realidades inaceitáveis na sociedade cristã. Por isso a evangelização tem que se tornar cada vez mais abrangente e dispor de recursos amealhados através do trabalho honesto e dignificante.

Sua Santidade o papa Francisco também se referiu ao combate à corrupção, mas com parcimônia. Certamente para não irritar as ratazanas do nosso erário. E com parcimônia ainda maior referiu-se ao trabalho. Logo o trabalho que põe a mesa de ricos e pobres. Que ocupa as pessoas e falas sentirem-se úteis. Que substitui a mendicância. Que constrói igrejas, escolas e casas. Que afasta os jovens das drogas e do computador perverso. Infelizmente no Brasil, e isso o papa deve ter levado em conta, crianças e adolescentes são proibidos de trabalhar. O ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) pune severamente os infratores. Que o estudo seja a ocupação primordial é lógico, natural e normal. Mas nas horas desocupadas, um trabalhinho condizente, pensando no futuro, é também um meio de afastar o jovem da perdição das drogas, da prostituição e dos furtos. Infelizmente, o trabalho que deveria ser um dos assuntos fundamentais da JMJ, quase passou em brancas nuvens. Certamente por culpa dos anfitriões.

Hoje o conforto e a tranqüilidade dos países desenvolvidos têm origem no trabalho organizado, bem como, nos estudos e no lazer das suas crianças e jovens que logo darão continuidade à prosperidade futura. Criança que não tem contato nem afinidade com o trabalho, quando adulta, acha o trabalho uma chatice ou um castigo. E, a partir daí, procura por todos os meios viver sem trabalhar, tanto dependendo de familiares, de furtos, de corrupção, do tráfico e, até, de esmolas. A aterradora insegurança pública que hoje sofremos no Brasil tem muito a ver com a proibição das crianças aprenderem e se acostumarem a trabalhar.

No final da Segunda Guerra Mundial, a Alemanha e o Japão não passavam de montes de escombros. Mas como eram povos trabalhadores, logo estruturaram os trabalhos da reconstrução e seus sistemas de educação. Os adultos trabalhavam doze horas por dia e os estudantes trabalhavam após as aulas. Os milagres econômicos floresceram em pouco mais de uma década e os dois países voltaram a figurar com destaque na economia global. E para ilustrar, o ministro alemão da reconstrução, Ludwig Erhard, ao ser perguntado pelos segredos do milagre, respondeu: “apenas deixamos trabalhar quem queria trabalhar e animamos os desanimados ao trabalho”. Com certeza eles não impuseram um ECA, os Bolsas-preguiça da vida e nem uma legislação trabalhista que nós brasileiros temos que engolir. E os resultados estão à vista de todos, deles e de nós. Se os pais ditos “cafonas” do passado não tivessem feito o que fizeram – certamente não teríamos o legado que outorgou à dignidade que dá honra em tempo presente a pessoa humana que é o trabalho. 

(*) Portelense, economista, pesquisador-chefe do Instituto de Desenvolvimento Socioeconômico do Estado do Amapá e atual Secretário Municipal de Planejamento de Mazagão (AP). E-mail: samlima17@yahoo.com.br – face book: Samuel Barbosa Texto produzido em Santana-AP-Brasil, em 09 de agosto de 2013, às 12h30min

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