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sexta-feira, 24 de junho de 2011

A HISTÓRIA DO LÉLIO, UM ESTUDANTE SEM MOTIVAÇÃO


Em recente reunião na minha escola (quem sou eu pra dizer que sou dono de escola, quando um grupo se acha superior, imortal, intocável que comanda a mesma) sobre o PPP, lembrei de um colega de aula da 1ª série. Eu era um garotinho que não queria estudar, mas quando pus os pés na escola pela primeira vez, caí de amor pelos estudos. Senti-me bem ser percebido pela professora e pelos meus colegas, um reconhecimento aos trabalhos da minha primeira professora, minha mãe. Em casa ela tinha o costume de falar o termo desenburrar, ou seja, ensinar a leitura em casa para quando chegar a escola já estar com meio caminho andado. Funcionou. Minha mãe nunca concluiu os estudos, ficou no ensino fundamental, 4ª série, mas tinha uma percepção aguçada e isso permitiu ver com antecedência que, quando eu fosse a escola, seria submetido a um teste que não está nos planos das escolas, quer dizer, está na sociedade, onde as pessoas tendem a competir uns com os outros, e são aceitas ou recusadas conforme a situação em que se encontram. Fui testado pelos colegas, pela professora, pelos amigos, e saí bem, voltei pra casa feliz da vida por ter sido abraçado por uma sociedade ávida em dar seu veredito.
Já o meu colega Lélio não teve a mesma sorte. De família humilde, mãe analfabeta e pai semi-analfabeto, não recebeu sequer um pedachito (termo usado por uma colega da 4ª série) do tal desemburramento aplicado pela minha mãe em todos nós filhos dela, uma tropa de oito irmãos. Vi aquele menino definhar ante o olhar dos colegas, não recebeu um elogio da professora, não produziu nada, e, como se fosse uma ostra, fechou-se em seu mundo, baixou a cabecinha, os olhos brilharam, parecia que ia chorar. Lélio podia não ser um cara bom com a caneta, mas era fera no futebol, um baixinho ágil, de domínio fácil com a bola. Esse seria a sua motivação, caso a escola tivesse essa oportunidade  a oferecer.
A professora, dessas que os políticos contratam porque estão desempregadas, não percebia que Lélio não tinha livros em casa, ninguém lia nada. Esse contato é necessário, imprescindível. Na minha residência a gente encontrava revistas, jornais, gibis (centenas deles, pois eu era um dos maiores colecionares de revistas em quadrinhos da cidade!), contos, poesias. A minha irmã, professora. A dele, prostitua. Assim, Lélio, caminha o mundo...
Ajudei meu amigo Lélio nas primeiras lições, ali mesmo na sala de aula, mas parecia que a professora só tinha olhos para os mais preparados, como se aquilo servisse para elevar a sua própria imagem diante dos outros professores e direção escolar. E foi assim que ouvi do Lélio as palavras da desistência, antes mesmo de acabar a aula daquele primeiro dia. Disse-me: “Vou desistir”.
Creio que vou contar essa história por muito tempo, sobretudo porque ela ilustra a falta de motivação de um aluno, que desiste e ninguém procura saber as razões. Nesse caso, é imprescindível a comunicação constante entre o professor e o aluno e deste com sua família; do professor com a equipe técnica. Assim, a escola vai deixar de apenas se interessar pelos números e passar a se interessar pelos seres humanos e suas qualidades.

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